12/07/2018

Futebol é futebol

Em 1950 a derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo foi uma hecatombe. O Brasil chorou. Outras derrota vieram. Outros sofrimentos intensos. Em 2014 um país dividido envergonhou-se após os 7 a 1 sofridos diante da Alemanha. Agora, em 2018, um país mais divivido ainda assistiu a desclassificação da Copa da Rússia. A dor já não é tanta. Afinal, há coisas mais urgentes acontecendo por aqui.

De quem é a culpa?

Em alguns casos é importante saber quem foi o responsável pelo afundamento do barco. No mundo jurídico isso geraria uma série de consequências cíveis e criminais. Alguém haveria de pagar pelo prejuízo causado. Como? Onde? Quais as causas? Quem executou ou deixou de executar a manobra? Quem falhou?
Nestes dias que se seguem à desclassificação da seleção Canarinho Pistola (mau gosto desde sempre), é o que a mídia, os torcedores e os secadores mais têm feito. Se Daniel Alves não tivesse se machucado, se o volante Arthur, hoje no Barcelona, estivesse no elenco, se no lugar do Taisson estivesse alguém mais qualificado, se Gabriel de Jesus deixasse de ser operário e se tornasse um fazedor de gols, se o treinador não ficasse apreciando suas ovelhinhas naquela grama sempre bem cuidada dos estádios russos etc etc etc.

Quem foi o responsável pelo desastre? Como nessa panela todo o mundo (com conhecimento de causa ou não) bota a colher, também ouso mexer neste angu. Creio que todos os adversários olham o Brasil com algum respeito. E não é para menos. É muito currículo. Muita vitória. Muita força. Corrijo a tempo: é muto currículo, é muita vitória e era muita força. Afinal de contas, o que menos se viu neste mundial foi força brasileira. Pariram-se algumas bigornas para chegar até o enfrentamento com os Belgas.
Os adversários, canários legítimos, ignoraram solenemente a força brasileira chegando à soberba de garantir o jogo no primeiro tempo. Do outro lado, um time que parecia amarrado, sem brilho, sem reação. Um treinador nervoso, apavorado. Visivelmente surpreendido. E assim foi.
Já faz uma semana dos acontecimentos. A ficha já caiu. Lula foi ameaçado de soltura. No fim, permaneceu preso. Pelo menos é o que acontece nesta segunda-feira, enquanto esta crônica vem sendo escrita. Do jeito que coisa anda, vai que a situação mude. Assim pensei durante o jogo contra a Bélgica: o Brasil deu uma melhorada. Fez um gol. Deu uma sacudida. Parecia que iria reagir. Mas, era o canto da morte. Tal qual um doente que luta a tempos contra uma enfermidade: a melhora foi ilusória. Não foi suficiente para levantar o doente do leito.
Nosso futebol está doente. Meninos saem do país para desfilar na Europa ainda na puberdade. Dão três ou quatro passes qualificados, fazem três ou quatro jogos por seus times e tornam-se astros nas terras dos outros. Desta forma: o que para nós pode parecer um desastre para alguns deles, que mal conhecem a realidade, é mais uma postagem no Instagram.  “Estou me sentindo muito mal. Não deu dessa vez. 2022 nos espera”.
Sei não. Olhando tudo isso, cada vez mais admiro a Celeste Olímpica. Sabidamente o Uruguai não tem todas opções que o Brasil tem. Mas ao menos empenho, suor e dedicação não faltam.
Quem foi o culpado pelo naufrágio? Não saberia apontar um só. Creio que  a Seleção Brasileira tornou-se refém como refém é o Brasil. Políticas nem sempre justas, nem sempre limpas, nem sempre privilegiando a maioria. O jogador que foi mal, o atleta que nem deveria estar lá, o treinador que não foi bem são alguns dos responsáveis. Mas, o negócio é bem maior. Talvez maior do que nós, que estamos aqui na província sem conhecer muito as engrenagens e os mecanismos da complexa fábrica que é a seleção nacional.
De qualquer modo: talvez por ignorar os meandros deste sistema, continuo torcendo para que a seleção ganhe a Copa América e outras competições. Afinal, como diria aquele pretenso filósofo das coisas rasas: futebol é futebol.   

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