19/02/2020

Investindo no silêncio

Aqueles que lidam com a saúde mental (terapeutas, psicólogos, psiquiatras e estudiosos) dizem com razoável insistência que a humanidade está doente. É um fenômeno mundial. Dores no corpo e na alma como resposta à falência das expectativas, às frustrações acumuladas ao longo da existência e às demandas por uma felicidade aparente. Some-se a isso o excesso de informação e a necessidade de estar sempre conectado, sempre disponível para o novo que chega a cada segundo, sem dar descanso.
Os sábios orientais têm algumas orientações para tornar a vida das pessoas em algo mais prazeroso, menos denso e mais próspero. Curiosamente, manter segredo sobre algumas coisas é uma desses caminhos indicados. Manter os seus objetivos mais importantes em segredo evitando compartilhar inclusive com pessoas próximas, pois a energia emanada pelo outro pode criar uma rejeição, uma desarmonia, afinal, mesmo que de forma inconsciente os próprios familiares podem torcer para que a meta não seja atingida. No momento certo, festeje a conquista com todos.
Não partilhar as limitações do corpo é outra dica. O corpo é um templo sagrado e o ser deve aprender a conviver com ele sem lamentações. Além disso, o excesso de informações sobre as dores cotidianas criam ideias negativas a respeito do indivíduo. Que nunca ouviu no seio familiar “lá vem fulano com suas dores”?

Não se vangloriar pelos atos de caridade é outro ponto destacado. Quem fica falando o quanto é bom cria um estado de arrogância. É conhecido o pensamento religioso de que a mão esquerda não deve conhecer da esmola ou ajuda oferecida pela direita. Quem alardeia os próprios atos de bondade de algum modo anula a espontaneidade e a compaixão. Guardar os atos de caridade para si mesmo é a regra. Ajudar por amor não para alimentar o ego.
Na mesma linha, ensinam os sábios que deve-se evitar de todas as formas dar ênfase à coragem e ao valor pessoal. Entende-se que as pessoas devem ter orgulho de si, mas guardando para si. A autopromoção gera críticas e cria uma imagem negativa.
Evitar o julgamento também contribui para o crescimento do indivíduo. Apesar de ser naturalmente humano o hábito de julgar e comentar detalhes da vida dos outros, este ato, de algum modo, revela muito do que sente e experimenta na sua vida o próprio julgador. Não espalhar ao vento as coisas que se acha negativo nos semelhantes é um exercício necessário para evitar entulhar a mente com pensamentos negativos.
Da mesma forma que deve se evitar comentar sobre a vida dos outros, deve-se, segundo os orientais, manter boa discrição sobre a vida pessoal. Quando se abre demais o leque, divulgando muitos detalhes, muitas minúcias da sua vida, do seu relacionamento, dos seus sentimentos, das suas dificuldades, a pessoa fornece ao outro elementos necessários para o julgamento. Além disso, todas estas informações, de algum modo, gera uma persona, um avatar, um perfil negativo que sempre será lembrado pelos que tomarem conhecimento reforçando as imperfeições que, cá entre nós, todos de algum modo apresentam.
Nestes tempos de redes sociais não é incomum a exposição exagerada de pequenas coisas da vida e de coisas verdadeiramente íntimas. Falar demais coloca o indivíduo numa condição de vulnerabilidade diante de quem ouve.
Claro, nem sempre é possível modificar hábito arraigados. Porém, nunca é tarde para ao menos pensar sobre a necessidade de vivenciar uma vida mais silenciosa, menos pública, mais íntima e respeitosa.

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