26/02/2020

Um Grão de Areia

Não existe nada objetivo em relação ao nosso tamanho. Não me refiro ao tamanho real do corpo físico. Isso é fácil. Basta uma fita métrica e o caso está resolvido. Que o digam os agentes funerários, hábeis em medir corpos desfalecidos com exatidão infalível. Falo de outra questão: qual o nosso tamanho, a nossa importância neste vasto mundão criado há tanto tempo e regido por algumas poucas leis conhecidas e por uma imensidão extraordinária de desconhecimento?
Ao longo dos tempos foram sendo construídas teses, tiradas determinadas conclusões sempre de acordo com o raso conhecimento que se tem. De positivo, de forma definitiva, no entanto, tudo continua navegando na incerteza. Senão vejamos: nos pensamentos religiosos mais antigos, o homem é um nada no mundo, uma cabeça de alfinete (se tanto), um grão de areia no deserto. Uma coisinha quase insignificante. Um serzinho que caminha na escuridão da ignorância diante de um Criador que o atordoa com ordens de correção e passo certo. Deve temer os erros, evitar os desatinos. Resta pouco de jogo de cintura neste sistema que reduz a criatura e rouba-lhe a possibilidade de criar coisas novas a partir de seus enganos. Errar é pecado. E pecado é coisa grave. Então, o melhor mesmo é não tentar e, talvez, nem pensar.
Neste sistema, a imaginação é perniciosa. Abandonar as crenças estabelecidas pelo “outro” jamais. Viver é participar dos dramas, das guerras, das contendas, das desarmonias que atingem a todos, criar armas, apontá-las aos inimigos ou pretensos inimigos e, de preferência, aniquilá-los. E, nos finais de semanas e dias santos, honrar ao Criador e seus admiráveis assistentes.
Outros ramos de pensamento saem deste sistema opressor de erro e acerto, de céu e inferno, de medo e de atrelamento à ideia da cobrança divina. Um deles é o dos hunas, do velho Havaí, por exemplo, que abstraem a ideia de guerra necessária, de dramas coletivos e de inimigos declarados ou ocultos. Passam ao largo da ideia de que só Deus é capaz de trazer a paz e só a medicina operar a cura dos corpos. Investem, isso sim, no poder pessoal de cada ser.
Para os kahunas, os antigos sábios dos Hunas do Havaí, é necessário reconhecer a parcela divina que habita dentro de cada ser. Ou seja, não está Deus lá fora ordenando, punindo e demonstrando seu apreço ou seu rancor pelos erros dos seus filhos. Não! Os filhos têm suas pernas e suas mentes e, portanto, podem mudar as condições de suas próprias vidas, assumindo suas responsabilidades por tudo o que acontece em suas existências.
Ora, de algum modo, isto se choca com as opiniões e pensamentos cristalizados ao longo de milênios. É comovente como o indivíduo prefere optar, ou é levado a isso por processo de manipulação, pela aceitação da sua impotência individual. É o tal do senso comum. Se o jornal diz, se a tevê diz, se está na internet, se as pessoas repetem isso e aquilo, então é tudo verdade. Assim é!
A quebra dessa fixação hipnótica de vitimização e imobilismo voluntário (ou não) é a proposta. Um detalhe curioso é que este estado hipnótico pode atingir, inclusive, o pensamento do mundo esotérico. O Universo, então, recebe os poderes mágicos. O empresário que faliu, o relacionamento que acabou, o acidente de carro, vistos por este prisma seriam recados dados por uma organização administrativa invisível que tem como objetivo abrir os olhos das pessoas para a necessidade de mudar. Creia no que quiser. Pense como puder. No entanto, o Universo, neste caso, é mero substituto de Deus. Não do Criador de tudo o que há, mas do ente forte e opressor da igreja antiga.
Na obra da escritora Lynda Dahl, Ten Thousand Whispers, Seth informa que “criamos nossa própria realidade sem exceção; o tempo é simultâneo, com passado, presente e futuro ativos, atingíveis e mutáveis neste exato momento; somos seres espirituais, e estamos nesta realidade física por razões e intenção mais profundas; o Universo está aqui para apoiar-nos e as lições foram colocadas por nós mesmos por motivos individuais exatamente neste tempo; temos o controle criativo e completo sobre tudo o que vivenciamos, e isto significa que não podemos ser influenciados por outra pessoa, a menos que o permitamos”.
É um baque. Uma mudança e tanto. Porém, é opcional pensar assim. É opcional gastar um tempo pensando sobre isso. Há tantas coisas lá fora. E, às vezes, é lá fora que nossos olhos encontram as respostas necessárias para o agora. Afinal, certo e erro, justo e injusto, necessário ou desnecessário são só pontos de vista. Aliás, como tudo na vida.

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