Fazia algum tempo que não
conversava com a velha amiga. Não: ela não é velha. Antiga é nossa amizade que
já registra algumas décadas. Durante este afastamento muita coisa ocorreu. Os
dias são outros. Nós também somos outros. Nos tempos distantes não havia assim
tanta tecnologia. Os contatos eram mais físicos, olho no olho. Vivia-se sem celulares, sem redes sociais,
sem tanto compartilhamento nem tanta postagem. A vida, talvez por isso,
transcorria sem tanta pressa. As notícias, mesmo numa cidade pequena, iam
deslizando preguiçosamente de boca em boca, espraiando-se nas conversas das
comadres nos seus chás tardios ou no traguinho dos compadres num balcão
ensebado de algum desses botecos que vendiam pão, leite em saquinho, Mumu,
Bombril, farinha, açúcar, panelas, fumo em rolo, linguiça, além de algum
remédio para dor de cabeça.
Disse-me que dia desses viu um
impactante vídeo numa das redes sociais. A mensagem dizia que nascemos com o
propósito de carregar nossa mala. E vamos atulhando a mala com os conhecimentos
que vamos adquirindo ao longo da existência. Nem só aqueles conhecimentos
transmitidos por fontes seguras e comprometidas com o processo de crescimento
dos indivíduos. Não! A mala vai recebendo lentamente todo o tipo de material
ali jogado, sem censura prévia, sem grandes deliberações nem juízo crítico.