21/09/2011

O destino

Acreditou-se um dia que o destino era uma história já escrita. Os homens aqui apareciam com um roteiro pré-estabelecido. Diante disso, cabia tão somente seguir o escrito, sem a possibilidade de providenciar alterações. Como soldados, marchando em fileiras absolutamente organizadas, homens e mulheres seguiam suas vidas aguardando a chegada dos acontecimentos que lhes cabiam. Marionetes dos deuses, brinquedinhos nas mãos dos soberanos. Suas vontades não operariam mudanças. Nascimento, vida e morte. Uma história sem sentido. Caminhos traçados previamente, inalteráveis.
Desde pequeno penso sobre isso. Ali, depois das primeiras dificuldades que a vida apresentava, concluía que a vivência de cada um é tal qual um livro que leva nosso nome na capa, uma breve introdução e com inúmeras folhas a serem preenchidas lentamente. É uma imagem simplória, uma conclusão infantil para um tema que tem suscitado aos maiores pensadores a formulação de teorias das mais diversas para explicar os enigmas da vida.
No entanto, embalado ainda nas memórias juvenis, correndo o risco da desconfiança do leitor, ouso seguir divagando sobre o sentido da existência e do destino. Pois bem, hoje se sabe que, muito embora muitos passem por aqui como tal, não somos meras marionetes. Os homens são os donos de seu futuro. E são justamente as suas ações diante de cada problema, de cada circunstância alegre ou triste, dolorosa ou festiva, que vão formando, dia após dia, a estrada existencial.
Alguns revelam grande talento, preparo ímpar. De tal forma que vão adicionando tintas de maneira criativa, compondo belas aquarelas. Outros, limitados pelas próprias condições intelectuais, físicas, morais e espirituais, no máximo vão imprimindo garatujas ao longo do tempo. Mesmo com mãos inábeis alguns destes ainda tentam o melhor dos resultados, mostrando ao menos esforço e determinação. Em meio ao emaranhado de traços lançam algumas cores, mesmo que a esmo, numa tentativa de chegar a uma obra um pouco mais bela. Há outros, ainda, que movidos pela lei do menor esforço, economizando suor, não chegam nem ao menos a passar a limpo a sua produção, deixando páginas mal rascunhadas e alguns borrões atrás de si.
Como diz Sêneca, filósofo espanhol que brilhou em Roma, nascemos todos de uma mesma forma e daqui saímos cada um ao seu modo. Aliás, a vida e a morte são temas recorrentes na obra de tal pensador. Havia certa fixação, verdadeira obsessão em suas cartas a Lucílio. Irônico, renunciando aos bens materiais, buscava através do conhecimento e da contemplação a tranquilidade da alma. Numa coisa coincide sua sabedoria com a minha percepção juvenil. Ninguém tem o destino atrelado a coisas imponderáveis. Somos senhores de nós mesmos, donos e construtores do nosso futuro.                  
Tal qual impresso nos livros de ajuda, que se publicam aos montes, Sêneca ressaltava a seu tempo que devemos saborear o presente inclusive com seus eventuais amargos. O futuro, bem este virá na medida do nosso trabalho, do nosso esforço e de nosso merecimento. Somente aguardar a sua chegada, porém, é grande erro, assim traduzido nas palavras do filósofo: “quem vive na esperança do amanhã deixa escapar o presente”.

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