18/09/2011

O nariz da miss

A cirurgia é um dos grandes avanços conquistados pela medicina, nas últimas décadas.  Milhares de vidas têm sido salvas no mundo todo pelo constante aperfeiçoamento de técnicas desenvolvidas ao longo dos tempos. 
O início das cirurgias, pelo que se sabe, foi dramático, até cruel. Conta-se que em países orientais ocorreram as primeiras experiências, com a tentativa em restaurar corpos danificados por acidentes ou guerras. Depois, já nas grandes guerras no Ocidente, os cirurgiões eram os barbeiros, que de posse de lâminas de fio incontestável amputavam membros dilacerados, muitas vezes no próprio campo de batalha, sem anestesia, sem assepsia.  
De reparação em reparação, as cirurgias foram evoluindo de tal forma que chegaram, agora no século XXI, à massificação.  Os grandes narizes, os narizes minúsculos, os seios extremados ou minúsculos, o excesso de rugas (as marcas de expressão), a falta de queixo ou o excesso, as mandíbulas proeminentes, enfim, quase tudo pode ser o centro de uma reparação estética. E o pagamento em suaves prestações mensais.
A grande exposição das cirurgias plásticas estéticas, na atualidade, tem sido os concursos de miss. A Venezuela, tão atrasada em alguns aspectos de desenvolvimento humano, tem se notabilizado pelo processo de produção de misses em série. A beleza natural, aliada a um bom trabalho cirúrgico, em muitos casos, pode resultar num cetro e numa coroa.
Aqui no Brasil, terra de Ivo Pitanguy, a grande autoridade mundial em embelezar o ser humano, o panorama parece não ser muito diferente. O curioso, no entanto, tem sido as últimas manchetes na imprensa. Uma jovem, Miss Rio Grande do Sul, levantou celeuma ao culpar o cirurgião plástico pelo seu fraco desempenho no Miss Brasil 2009. Entende ela que o mísero 6º lugar no concurso deveu-se única e exclusivamente ao seu nariz, que ficou muito pequeno após a realização da intervenção. O médico se defende, espinafrando e chutando o balde, revelando as dezenas de procedimentos que a miss teve que se submeter para ter alguma chance. O caso é uma verdadeira aula de falta de ética. E a imprensa, claro, no seu papel de repercutir também as banalidades, gasta páginas e páginas no pingue-pongue entre médico e paciente.
Não sou um bom futurólogo. Minhas previsões nem sempre se realizam. No entanto, não é difícil prever que, em alguns anos, o cetro e a coroa não serão mais entregues às jovens candidatas, mas sim  ao cirurgião plástico, que entrará no palco com os aplausos da plateia e com música de vitória.

* Neste ano, fugindo do padrão anteriormente estabelecido, os jurados elegeram uma jovem africana. Viva a diversidade! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário