30/03/2011

A magia dos bolinhos de chuva

É um despropósito o que tem chovido neste início de Outono. Quem aguardava algo como um prolongamento do Verão, enganou-se. O tempo mais parece o Inverno, com seus dias chuvosos e frios.
E a chuva me remete a um tempo de tardes vazias. Uma verdadeira tortura. Com a chuva presente, nada de atividades na rua. Os amigos de bola, de diversão, de traquinagens, permaneciam inertes em suas casas. As mães não permitiam qualquer incursão à rua. Com sete, oito ou nove anos, entendiam que era necessário o resguardo. Restava-me a pequena janela, de onde observava um mundo onde a atividade mais vibrante era a dos pingos de água caindo e formando poças no nosso campinho. Até os cuscos se escondiam nos dias de chuva.

29/03/2011

História de um furo mundial

Gêmeos de Cândido Godói
Cada vez que aparece esta história do número exagerado de gêmeos de Cândido Godói na imprensa lembro de uma matéria que escrevi para um jornal de Santa Rosa sobre o assunto. Era um fato inusitado. Numa pequena comunidade, na Linha São Pedro, interior de Godói, boa parte das famílias tinha gêmeos. Não havia explicação para isso.
Alguns chutavam que a água do local tinha algum componente que favorecia de alguma forma à fertilidade podendo, inclusive, influenciar no nascimento de gêmeos. Chegou-se até a cogitar a influência do médico nazista Mengele que teria desenvolvido pesquisa envolvendo famílias descendentes de germânicos, escondidos naquele pedaço de chão.
Independente das conclusões atuais, o que me deixou intrigado, e satisfeito ao mesmo tempo, foi a revelação de moradores daquele Município da história da matéria que fiz e que desencadeou este processo todo, chegando ao estudo científico do caso. Segundo relato do morador Ivo Ferreira dos Passos fui procurado para fazer uma matéria sobre um minhocário. Não obstante, contrariando o combinado, divulguei a existência dos gêmeos na comunidade.

23/03/2011

O silêncio oriental diante do caos

Um terremoto que destrói centenas de prédios, milhares de vidas consumidas, corpos resgatados dos entulhos. Um tsunami que inunda cidades, destruindo ruas, pontes, praças, engolindo gente. Pessoas procurando familiares que se perderam. Falta de luz, pane na comunicação. O deslocamento das placas tectônicas e a violência das águas causaram outros males. Atingiram usinas nucleares. Caos. Não é o apocalipse, o fim do mundo, o final dos tempos. Muitos  dramas num mesmo lugar. No Japão. Tão distante dos olhos, tão presente nestes tempos de instantaneidade da informação. A força incontida da natureza mostrando novamente as garras. Tem sido comum nos últimos tempos.

16/03/2011

Nos tempos da magrinhagem

Cascalho  - imagem:carosouvintes.com.br

Ser magrinho nos anos 70 era ter um estilo pessoal. Cabelos longos, em desalinho, camiseta, calça apertada na canela e jaqueta jeans. Havia, também, as calças com boca de sino, muitas delas alargadas com uma nesga com uma cor diferente. O magrinho era o jovem descolado, urbano. Era o cara que jogava uma mochila nas costas e ia para a praia ou para Santa Catarina de carona. 
Os termos magrinho, magrinhagem, ganharam força na voz do Cascalho, o Carlos Contursi, que comandava um dos programas jovens mais apreciados de então, na Continental AM 1120 - a Superquente-, o  Cascalho Time. Nas sociedades, Contursi promovia o Baile dos Magrinhos.

11/03/2011

Tristes manchetes

Esta sexta-feira é um dia de tristes manchetes. Fúria da natureza no Estado, terremoto, destruição, mortes, tsunami. A imprensa não tem tempo para respirar. Por aqui, a tarde foi corrida. Zum-zum-zum, notícias desencontradas, informações incompletas. Tumulto, correria. Pelas ruas da cidade um movimento incomum. No Hospital São Vicente de Paulo uma aglomeração jamais vista. São centenas de pessoas na frente querendo saber algo mais. Um jovem osoriense foi assassinado. 16 anos de idade. Comoção geral. O atleta de futuro partiu.

08/03/2011

Crônica para uma quarta de cinzas

Carnaval de salão - foto: patosonline

Palavras que denunciam

As escolas já passaram. Passistas, comissões de frente, alas das baianas e destaques são coisas do passado. Na avenida vazia alguns garis recolhem o que sobrou. Quem brincou, brincou; quem sambou, sambou. Agora é só esperar aquela inconfundível voz, em rede nacional, anunciando a “nota 10!”. Vibro com a nota 10, mesmo sem saber para que quesito, para que escola ela foi atribuída. Nesta busca pela perfeição, nota 9,5 é merreca, é fracasso, é derrota. O que vale mesmo é a vibração do “10!”.

01/03/2011

Scliar, o Carnaval e as mulheres

Scliar (arte sobre foto)

Moacyr Scliar é imortal. Não só pela cadeira na Academia Brasileira de Letras, que ocupava desde 2003, mas sim pela produção de 70 obras entre contos, novelas, ensaios e romances. São histórias vivenciadas por cada um dos seus milhares de leitores espalhados por todo o mundo. Os anseios, as lutas, os problemas dos seus personagens são as mesmas lutas, os mesmos anseios e os mesmos problemas dos homens e mulheres comuns que se identificam com suas obras.
Scliar bem que poderia ser pedante. Bem que poderia posar de estrela. Teria todo o direito de lançar em suas muitas colunas semanais na Zero Hora expressões difíceis, palavras rebuscadas. Porém, preferia sempre atingir o maior número de pessoas. Nestes tempos de culto à celebridade, onde muitos representam personagens, Scliar interpretava a si mesmo.  É o que dizem seus amigos mais próximos. É o que diz sua obra.