14/03/2019

A caça e o caçador – A lei da selva


É da natureza dos animais a luta pela sobrevivência. Nas florestas que restam em todo o planeta, notadamente cercadas e mantidas por governos como reservas biológicas, é normal a luta encarniçada das espécies para matar a fome e prosperar até o dia seguinte. Não há dó nem piedade. Um leão ou um leopardo não viverão dramas existenciais quando avistarem um filhote de gazela disperso de sua manada e, portanto, indefeso. A graça e a beleza se vão para sempre. Restam pedaços de carnes e ossos trucidados por dentes fortes e engolidos por uma boca faminta.
Entre os homens civilizados, cultos e pretensamente conhecedores das razões da existência esta ação natural que acomete todos os seres bem que poderia ficar ao largo. Mas, vez por outra, essas guerras animalescas bem que tomam conta da realidade humana.

Dia desses, numa das rádios mais ouvidas da Capital, alguns deputados federais, que selam o destino das pessoas votando projetos bem ou mal-intencionados, discutiam os rumos do país e da necessidade de implementar uma ampla reforma no sistema previdenciário pátrio. Os esquerdistas defendiam a desumanidade do projeto capitaneado pelo presidente eleito. Diziam que, na realidade, a preocupação governamental é reduzir os ganhos da grande maioria, justamente a população mais pobre do país. Denunciaram que a propaganda do governo fala em acabar com os privilégios, mas, na prática, o que vem acontecendo é justamente a manutenção dos privilégios às classes mais abastadas.
Do outro lado, os argumentos eram os de sempre: deficit no caixa, aumento da expectativa de vida, privilégios e outras coisas já bem conhecidas.
Um dos debatedores destacou que o presidente já demonstrava nos bastidores uma disposição em destinar recursos na sua base, algo em torno de 10 milhões por deputado, para garantir a aprovação das medidas. Eis que um governista saltou e assumiu o microfone garantindo que é totalmente contra qualquer toma lá dá cá. Que o presidente eleito veio com a responsabilidade de implantar nova política, varrer os velhos hábitos do meio político e blá-blá-blá.
Há pessoas que acreditam nisso. Que, sinceramente, deitam suas cabeças no travesseiro e agradecem por tudo isso. Acreditam que estão certos. Que o novo está aí. Os outros é que não querem ver. De outra ponta, outros, no entanto, perdem o sono. Sabem que a falsidade costuma rondar os gabinetes acarpetados dos poderosos e que o que se diz na intimidade do poder não se diz publicamente.
Voltando ao debate, o deputado governista disse que não acreditava que o governo, o da nova e não da velha política, vá agir desta forma. Qualquer coisa em contrário deveria vir acompanhado de provas. Ora, ora… Desde quando negociações sobre tramitação de medidas radicais envolvendo Executivo e Legislativo se tornarão públicas. Ingenuidade ou má-fé. Só pode!
E assim seguimos na selva. Leões e leopardos loucos de fome de um lado, salivando por uma presa. Não há grandes dramas nem complexos de culpa. A carne é fraca. Mas, é necessária. Nem que seja de um velho doente, de um trabalhador que mais vive no desemprego do que no emprego formal. Quem mandou ser indefeso. O deficit de caixa tem que ser coberto. Gasta-se demais. Isso tem que acabar.
Azar de quem virou a caça. O caçador está solto. Ele tem fome. Privilégio será sair vivo dessa guerra dos bichos.

2 comentários:

  1. Isso é uma crônica. E é assim. Somos o bixo que servira de alimento. E o círculo vicioso (ou viciado) se eterniza!

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    1. Gostaria de estar totalmente enganado, mas a prática do dia a dia não permite. Abraços!

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