04/07/2019

O Ponto de Vista


Quando ouvimos a expressão ponto de vista, em regra, pensamos logo em opinião. Popularmente assim é. Para o senso comum, ponto de vista, opinião e parecer vem a ser tudo a mesmíssima coisa. Porém, se estas frutas receberem algum aperto darão origem a sucos distintos. O ponto de vista é uma opinião mais fundamentada, é um parente próximo do parecer. Já o parecer carrega no seu íntimo algum cuidado técnico, algum conhecimento prévio e resulta sempre em alguma responsabilidade posterior.
Um palestrante, um expositor, um comunicador, por exemplo, quando desejar entregar para a plateia uma mensagem carregada de alguma credibilidade usará em seu discurso menos opinião e mais ponto de vista. Eu acho, então, está descartado. É o fim da várzea. O enterro da narrativa. O eu acho é quase um acidente: “Estava ali na rua, olhei para a direita sem muita pretensão e achei tal coisa”. Tive um professor que detestava o “eu acho”. “Não achas nada, filho!”, dizia de vez em quando.

Uma das maiores diferenças entre o ponto de vista e a opinião é que o primeiro pressupõe uma observação, uma visão, uma forma de olhar, de mensurar, de analisar algo sob um prisma, sob um aspecto. Não necessariamente uma visão de especialista que vê as coisas com profundidade e nos detalhes mais ínfimos. Não! Dispensa-se este grau apurado de exigência. A opinião é, por sua vez, uma análise rasteira, despretensiosa, desprovida de grande conhecimento e, muitas vezes, calcada na especulação. É irmã do “eu acho”.
O ponto de vista de um médico sobre determinada enfermidade na coluna de um indivíduo, sobre as causas e tipos de tratamento em regra é levado mais em conta do que a opinião de um engenheiro ou de um arquiteto ou mesmo de um construtor sobre a mesma situação. Já o ponto de vista de um engenheiro, de um arquiteto ou de um construtor sobre as formas de conceber uma coluna em uma construção de um prédio tende a ser mais valorada do que a de um especialista em complexa cirurgia, por exemplo.
Essa questão pode parecer desimportante. No entanto, se analisarmos com um pouco de atenção podemos constatar que os indivíduos definem suas experiências a partir de pontos de vista. No dia a dia isso faz diferença. Um indivíduo materialista conceberá o mundo diferentemente de um espiritualista. Serão mundos distintos. Não cabe, de forma alguma, seguirmos aqui o caminho da busca por definir se este é melhor ou pior que aquele. Essa discussão é inócua, desnecessária. Uma coisa é certa: enxergam coisas diferentes. Se compreendem o mundo diferentemente logo vivem diferentemente.
Nos dias atuais, onde a pressa é a norma, há mais opinião do que qualquer outra coisa. A vivência virtual exige certa rapidez no gatilho. Se demorar muito a fila vai andar e o burburinho será outro, o escândalo já estará esquecido e as atenções se bandearam para outras instâncias. As polêmicas vão sendo superadas rapidamente e as postagens vão sendo apagadas. Como rescaldo ficam alguns estranhamentos entre os donos de opiniões.
Joseph Campbell, escritor norte-americano, muito antes das rusgas da comunicação instantânea preconizava que “compreender que há outros pontos de vista é o início da sabedoria”. No reino do barulho, como se vê, a sabedoria disparou léguas de distância e nem ao menos olha para trás.

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