03/10/2018

As fake news e o medo

Esta não é a primeira eleição brasileira onde o boato vale mais do que o fato. Quem participa do processo há um pouco mais de tempo deve lembrar dos boatos que favoreceram Fernando Collor de Mello, em 1989, levando-o à presidência da República num dos episódios mais traumáticos da vida política nacional. Dizia-se na época que Lula confiscaria a garagem de todos aqueles que tinham carro para jogar dentro uma família de sem-teto. As casas na praia também seriam confiscadas e entregues aos necessitados. A Globo editou o debate no Jornal Nacional e, entre outras baixarias, a campanha de Collor encontrou uma namorada do líder oposicionista, Míriam Cordeiro, que afirmou que Lula teria pedido para que fizesse um aborto. Anos mais tarde, Collor disse que se arrependia de ter abordado o caso na sua propaganda.
O clima de ódio fez de Collor, o Caçador de Marajás, presidente do país. Pouco tempo depois, o orgulho deu lugar à vergonha. Os colloridos foram despejados do poder, gerando um sentimento de vergonha nacional.
Nos dias de hoje, os boatos são virtuais. E têm até nome próprio: Fake news ou notícia falsa. O meio é o WhatsApp. Através do aplicativo, disseminam-se informações grotescas, ideias ultrapassadas e ameaças de toda a ordem. A falta de senso crítico e de juízo polui os grupos familiares gerando um verdadeiro caos. Pais contra filhos, irmãos contra irmãos.
Engana-se, porém, quem joga uma moeda apostando que o fim dos tempos chegou. Apesar do que apontam as pesquisas falsas que circulam nos grupos de família, é quase certo que o embate segue para um segundo turno. Ou seja: nova oportunidade para o recrudescimento dos embates entre os prós e os contras. Com isso, cresce a tensão, o stress, o medo e o desespero de quem tem certeza, mas, no fundo, desconfia.
Alguns estudiosos acreditam que o embate eleitoral polarizado é potencializado pelo medo. Como são dois grupos distintos elege-se uma divindade e um demônio. Os de lá acreditam que estão do lado certo. Os do outro também. Já o demônio está lá e não aqui. E isso mexe com os nervos. A incerteza dá medo. Assusta. Os candidatos viraram arautos do bem ou do mal, depende do lado que o eleitor está. O pleito virou religião. Religião dogmática a tolerância não tem espaço.
O mundo vai acabar se o outro ganhar. A vida não será fácil se esta turma chegar lá. Tudo isso gera medo, desconforto. Ter medo é normal. Todo o mundo tem. Pelo que consta a palavra medo provém do termo latim metus. É uma perturbação angustiosa perante um risco ou uma ameaça real ou imaginária. O conceito também se refere ao receio ou à apreensão que alguém tem de que venha a acontecer algo contrário àquilo que pretende.
O medo abafa o sentimento de esperança. Ele aumenta o tamanho da ameaça. O perigo está sempre vivo. Está ali na frente. Ás vezes, o medo está na urna. A ameaça está ali numa caixinha e se mostra numa foto digital. Mas, pode naquele mesmo local encontrar-se a esperança. É só confirmar.

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