Os textos hoje são pequenos. Dizem que ninguém tem muito tempo para
gastar com leitura. Se o tema é complexo, então, o poder de síntese
tem que, obrigatoriamente, imperar. Como se lê mais no computador e
no celular, quanto menor melhor. Com isso, vive-se o tempo das ideias
rasas, da conclusão a partir da manchete, da falta de detalhes.
Objetividade é a norma.
Às vezes, opto por contrariar solenemente esta regra dos novos
tempos. Se houvesse alguma pesquisa juro que gostaria de saber o
resultado. Quantos leitores desistem de continuar lendo após o
segundo parágrafo?
Na feira, no mercado, na loja ou na caminhada pela cidade, vez por
outra encontro alguém que, sem grandes papos, de forma direta e
objetiva como tudo tende a ser, informa que tem lido com frequência
a coluna que publico com regularidade aqui no jornal. Sempre brinco,
em pensamento, é claro, “alguém lê!”.
Os primeiros impressos que li, fora as famigeradas cartilhas
escolares com seus desenhos primários e suas lições repetitivas,
foram exemplares do Correio do Povo, o antigo, em formato standart.
Suas fotos eram enormes e os textos da mesma forma. Ainda guardo na
memória aquelas matérias grandiosas com imagens impressionantes de
jogadores do Grêmio e do Inter disputando a rodada do final de
semana. Havia impensáveis fotos de mais de um palmo e meio ou dois.
Eram gigantes gremistas e colorados quase saindo da página do
jornal.
O mais impressionante era a forma como estes exemplares chegavam
até os meus olhos. Eram jornais velhos de dias e dias atrás,
semanas ou talvez até meses. Em regra, eram usados no armazém, na
venda, como forma de embalar o aipim ou a batata doce. Como estes
tubérculos normalmente vêm sujos de terra preta ou vermelha, antes
de ler e apreciar as “novidades” futebolísticas, havia um
exercício de limpeza a ser feito: passava a mão levemente sobre a
sujeira para não entranhar no jornal e prejudicar a compreensão da
notícia ou da fotografia. Era um santo remédio. Uma ação simples.
Sujava a mão, mas limpava o periódico.
Os jornais encolheram. As imagens são minúsculas. Os textos
também. Muitas redações fecharam. Viraram sites de notícias.
Caminham para a extinção, anunciam os que já chegaram no futuro.
Se o seu Zé de antigamente ainda tivesse o armazém haveria de
encontrar outra forma para empacotar os aipins e a batata doce.
Pesquisas – As pequisas
eleitorais que vêm sendo publicadas não surpreendem, pelo menos
neste momento. Lula, que é um candidato não-candidato, venceria
todos os demais. Como não vai concorrer, ao sair do páreo é que se
terá uma real noção do panorama político que se estabelecerá na
nação. Uma guinada a uma visão repressora e fanfarrona, uma volta
aos anos 90 com a social-democracia de FHC ou a consagração do
poder de Lula, através de seu pupilo Haddad? Uma reviravolta com
Marina ou Ciro? Como não vejo o futuro, sou incapaz de apostar um
exemplar de jornal velho para que lado a população vai pender. Essa
é uma daquelas questões que só o tempo vai responder. Aguardemos,
então, o desenrolar de mais um emocionante capítulo da história
desta jovem e não muito forte democracia pátria.